sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

FALSAS VERDADES

Gustavo Maia Gomes
Recife, 15-2-2019
Li, recentemente, que “as 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres”. Teria sido dito pela Oxfam, a ONG que defende os pobres com o dinheiro dos ricos. Seus técnicos garantem estar havendo “avanço da desigualdade e concentração de riqueza [no mundo], enquanto metade da população perde mais renda do que ganha”. Isso eu copiei da Rede Brasil Atual.
Não consultei o relatório da Oxfam – portanto, não falo, especificamente, sobre ele – mas a facilidade com que afirmativas desse tipo são apresentadas como se fossem verdades científicas me espanta. Todas as vezes que tentei calcular a “riqueza” pertencente a um grupo de pessoas, desisti. Por muitas razões, das quais cito duas.
A primeira: Eike Batista era, realmente, tão rico quanto se dizia? Sua riqueza desmanchou no ar em poucos minutos. A barragem rompeu? O Titanic afundou de novo? Uma fonte inesgotável de energia barata foi inesperadamente descoberta? Tais teriam sido boas razões para a súbita destruição da riqueza daquele senhor. Mas, ela sumiu sem precisar nada disso.
A opulência, no caso, era medida em ações. Mas, se as empresas do Sr. Batista valessem mesmo o que as ações diziam, estas não teriam passado a valer nada do dia para a noite. Assim, enquanto os frouxos fundamentos econômicos daquele senhor não se evidenciavam, sua riqueza consistia apenas na capacidade de transformar ações em bens materiais e imateriais. A “verdadeira riqueza” do magnata estava nos castelos, iates, aviões, obras de arte, patentes valiosas, etc. que ele (em tese) podia comprar.
Ora, mas até que as vendas-e-compras acontecessem, estes castelos, iates, etc. pertenciam a outros milionários. A Oxfam – se não ela, muitos economistas de tendências políticas semelhantes – foi lá e somou a riqueza de Eike Batista com a dos donos dos castelos, iates, etc. Dessa maneira, multiplicou na estatística a riqueza dos ricos. E era uma soma de ventos, como os fatos logo viriam a demonstrar.
A segunda razão: dificuldades de medir não acontecem apenas com a riqueza dos ricos. Também com a dos pobres. Severino Silva mora há cinquenta anos numa casa modesta, mas que tem valor econômico. Embora, no papel, a moradia pertença aos herdeiros de algum rico, que nunca conseguirão terminar o inventário, na prática, Severino jamais pagou aluguel e poderia até vendê-la, informalmente, se quisesse. Nos registros oficiais, o imóvel pertence a um milionário. Na verdade, ele é parte da riqueza de um pobre.
Os problemas mostrados acima estão longe de serem os únicos. A soma deles me levou a concluir ser impossível fazer estimativas minimamente válidas de “riqueza”, ainda menos de todo mundo e no mundo todo. De modo que esses cálculos atribuídos à Oxfam e a divulgação subsequente de falsas verdades do tipo “as 26 pessoas mais ricas do mundo detêm a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres” cheiram mesmo é a picaretagem.

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