terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A PRAÇA É DO POVO?

Gustavo Maia Gomes
Recife, 8-2-2019
Sabia que ela não existia mais, a fábrica de tecidos de Tibiri, em Santa Rita, PB, mas me decepcionei, assim mesmo, em ver o triste fim de Policarpo Quaresma que lhe foi dado. Construída em 1891-92 por meu bisavô engenheiro Francisco Dias Cardoso Filho (c.1865-1917), a então mais importante unidade industrial da Paraíba funcionou até 1976.
Não pôde resistir à concorrência de outras fábricas, especialmente, as localizadas em São Paulo, muito mais modernas. Sucumbiu junto com toda a velha indústria têxtil do Nordeste, que chegou a ter peso comparável ao do setor açucareiro, na primeira metade do século XX.
Nem os esforços da Sudene nos anos 1960 conseguiram evitar o fim melancólico de tecelagens como a Tibiri, na Paraíba. Ou, em Pernambuco, as da Madalena, da Torre, da Macaxeira, da Tacaruna, de Santo Amaro, de Goiana, de Paulista, de Moreno e outras. Em Sergipe, a de Propriá. Em Alagoas, a de Fernão Velho, onde o trem para Branquinha sempre parava.
Mas, tudo isso aconteceria muito depois da morte de Francisco. Eis o que sua neta Heloisa Pedrosa tem a dizer sobre ele, especialmente, em relação à Companhia Parahybana de Tecidos, dona da fábrica de Tibiri:
"Depois de formado em engenharia [no Rio de Janeiro], Francisco aceitou um emprego numa empresa que iria construir a usina de açúcar São João, na Paraíba. Ele foi, então, morar [naquele estado]. Quando a usina já estava terminada, recebeu convite para construir uma fábrica de tecidos. Ergueu a fábrica, a casa do gerente, as casas dos empregados, dos operários, o escritório e o almoxarifado. [Encerradas as obras, ele assumiu a posição de gerente da fábrica] e lá ficou por muitos anos" (Heloisa Pedrosa, Memórias).
Em 2008, segundo informação que colhi na internet, o que restava em pé foi demolido. Um observador lamenta: "Quem nasceu e se criou em Tibiri Fábrica [o bairro ganhou este nome] traz na sua lembrança, se não a velha Tibiri funcionando, as ruínas [dela], até a sua criminosa demolição, para a construção de um grande descampado denominado Praça do Povo" (Cleyton Ferrer, no Facebook).
A Praça do Povo, minhas senhoras e meus senhores, como as fotos que de lá tirei amplamente comprovam, é uma merda. Uma MERDA. Um grande cimentado e só. Derrubaram a história para por em seu lugar um deserto de mau gosto. Tomara que o prefeito que fez isso só seja culpado de ignorância, pois a outra hipótese é que tenha roubado, mesmo.
“A praça, a praça é do povo", disse Castro Alves, "como o céu é do condor. É antro onde a liberdade cria águias em seu calor!” Pode ser. Mas não tinha outro lugar na Paraíba inteira onde se contentasse o poeta sem agredir a história em geral e a memória de Francisco Dias Cardoso Filho, em particular?

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