terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

UMA TRAGÉDIA RECIFENSE (1912)

Gustavo Maia Gomes
Recife, 22-1-2019
Em 5 de setembro de 1912, cerca de cem meninas órfãs internas no Colégio da Jaqueira, Recife, ingeriram veneno. Quarenta e nove, numa conta; 45, em outra, morreram. As freiras pensavam estar administrando um vermífugo, procedimento repetido mensalmente. Mas, desta vez, o hospital mandara, por engano, uma substância altamente tóxica.
Soube disso por Mario Sette (Arruar: história pitoresca do Recife antigo. Rio de Janeiro, Editora CEB, 1948, págs. 340-41). Fui ler os jornais da época: A Província, Jornal Pequeno, Jornal do Recife. Todos trazem coberturas detalhadas do episódio. (O Diário de Pernambuco ficou fora de circulação durante a maior parte do ano de 1912, devido à briga política entre seu proprietário Rosa e Silva e o governador Dantas Barreto.)
Relata Mario Sette: “Aconteceu que, mal ingeriram o remédio, todas as órfãs começaram a sentir-se mal. Uma intoxicação violenta e gravíssima. Algumas meninas já agonizavam. Alarmam-se o colégio, a vizinhança, a cidade inteira. Correm médicos às dezenas para o orfanato. (...) 88 meninas intoxicadas. 18 já estão prestes a expirar. (...) Às quatro da tarde havia 35 cadáveres; à noite, 42. E eram cenas terríveis.”
Leandro Gomes de Barros (“As órfãs do Colégio da Jaqueira no Recife", s/d, disponível no blog Cordel no Mundo), que não foi meu parente, apesar do nome, versou sua tristeza, a nossa, a de todos, em canto que começava assim:
A serpa mais venenosa
A fera mais traiçoeira
Os próprios alienados
Que estão na Tamarineira
Chorariam vendo a cena
Do Colégio da Jaqueira
(...)
Era um teatro de horror
Ou cena desconhecida
Até a alma de Nero
Vendo-a ficava abatida
Um espetáculo de sangue
Um quadro negro da vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário