quinta-feira, 26 de outubro de 2017

INTRODUÇÃO À ECONOMIA



Estremeço ao ouvir ou ler, na mídia, coisas do tipo "em 2016, o PIB brasileiro foi negativo". Nem todos os radialistas ou jornalistas falam desse modo, claro, mas, alguns, sim. Pedindo sua permissão, tenho as seguintes observações a fazer. Se julgarem que, com isso, os estou ajudando, ficarei feliz. É minha intenção.
O PIB (produto interno bruto) representa uma medida monetária de tudo o que foi produzido em determinada região durante um dado período. Falar que "o PIB foi negativo", portanto, equivale a dizer que o povo desse lugar, como resultado de sua atividade de, digamos, um ano, produziu uma quantidade com valor inferior a zero de bens e serviços.
Existe a produção negativa?
Na verdade, a "desprodução" não é uma impossibilidade teórica. Quando o socialismo desmoronou, descobriu-se, por exemplo, que muitas empresas da antiga União Soviética, rotineiramente, destruíam valor. Ou seja, geravam um produto que, se corretamente medido, valia menos que as matérias primas consumidas em sua fabricação. "Desproduziam", enfim.
Mas, com certeza, não é isso o que alguns jornalistas e radialistas querem dizer com a frase "o PIB brasileiro foi negativo". Deviam falar, então, que a VARIAÇÃO do produto interno bruto foi negativa. Bem sei que os inesquecíveis Guido Mantega e Dilma Rousseff viviam prometendo "o pibão" (e entregando o "pibinho"), mas, tenho certeza, nenhum jornalista ou radialista sério quer ser equiparado a essa gente.
O mesmo problema ocorre com as declarações sobre os índices de preços e a sua variação. "O IPCA foi de 5%", por exemplo, é uma frase sem sentido. A variação do índice é que pode ter alcançado tal percentagem.
O caso da "renda zero"
Imprecisões conceituais (se não essas, outras menos óbvias) também são cometidas por economistas, quanto ao mais, competentes. No ano passado, ouvi palestra de um deles. Suas estatísticas mostravam que um enorme número de famílias pobres, no Brasil, tinham "renda zero".
Coitadinhas delas. Pois uma família pobre (portanto, com quase nenhum capital para consumir) cuja renda fosse zero morreria de fome, frio e insolação em uma semana. O cara tinha contado errado: a renda daqueles pobres podia não ser igual à de Joesley Batista, mas não era zero, tampouco.
Era feita de algum dinheiro ganho em biscates (não declarado ao entrevistador), mais o ensino público gratuito recebido pelos filhos, mais a assistência médica do SUS, mais a água e energia elétrica supridas de graça por ligações clandestinas (indefinidamente toleradas), mais os serviços de alojamento proporcionados por sua casa tosca construída numa invasão, mais o transporte sem custo oferecido pelo vereador, mais a cerveja paga por um amigo... "Renda zero" só mesmo em discurso de economista preocupado com o social.
Não, caros amigos jornalistas (poucos, ressalvo): o PIB do Brasil em 2016 não foi negativo. Nem a "nova matriz econômica" conseguiria realizar tal proeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário