quinta-feira, 26 de outubro de 2017

TARZAN E O ÚLTIMO CHURRASCO


Perdido na selva quando bebê, foi criado por uma macaca. Em criança, vivia nas árvores, pulando de galho em galho. Adulto, fez filmes em Holywood. Tornou-se famoso. O rei dos animais. Ainda está vivo, mas esquecido. Refiro-me a Tarzan.
Gostava de carne e nisso imitava leões, lobos, hienas e urubus, em ordem decrescente na hierarquia animalesca. Naquela época, ser carnívoro ainda não era politicamente incorreto. Foi ficando. Para proteger a reputação, Tarzan passou a comer em segredo.
Certa feita, entretanto, um repórter investigativo o flagrou. Deu manchete internacional: "Veja o rei dos animais atracado a uma picanha!". Daí em diante, sua carreira artística declinou a olhos vistos. Para reanimá-la, virou vegetariano. Sem resultado.
Passou a vegano. Não adiantou. Dia após dia, definhava no corpo e no espírito. Perdeu as forças, o brilho da pele, a agilidade nas árvores. Caía com frequência, ainda bem que longe das câmeras. Privado de proteínas e da antiga fama, tornou-se depressivo.
Decidiu se suicidar. Avisou à família. As parentas protestaram: "de jeito nenhum, se tá faltando dinheiro, a macacada empresta". A decisão era inapelável, mas Tarzan queria fazer uma despedida.
Conseguiu a promessa de que lhe satisfariam o último desejo: comer um churrasco à argentina, com bife de chorizo, tiras, vacios, lomos, matambre, asado, colita de quadril... y otras cositas más. Devorou o boi inteiro. Sentiu-se outro. Feliz, revigorado, confiante em sua habilidade de andar nas árvores.
Adiou o suicídio. Encomendou outro churrasco para a quarta-feira. Desta vez, à brasileira. A parentela adorou. Bendita picanha.

(Os nomes das carnes e a imagem eu os trouxe de Amanda Mormito, Blog Buenos Aires para Chicas.)

(Publicado no Facebook em 4/8/2017)

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