quinta-feira, 26 de outubro de 2017

JOGUEI NO LIXO UMA OBRA PRIMA



Fui professor durante mais de trinta anos. Em alguns casos, ao receber artigos ruins para avaliar, redigi pareceres justificando sua rejeição. (Claro que também houve os bons, cuja publicação recomendei.) Noutros, fui menos paciente. O exemplo extremo foi o de um candidato a doutor que me entregou texto de sua autoria. Dali sairia, segundo ele, a futura tese.
O troço era tão ruim que, depois de ler as duas primeiras páginas, joguei tudo no lixo. Ainda não era o tempo dos arquivos eletrônicos, de modo que a perda foi definitiva. Quando o aluno se apresentou de novo, aconselhei-o a tentar outra carreira. Fiz isso sem ser grosseiro, com a intenção, realmente, de ajudá-lo.
De certa forma, arrependi-me, pois acabei percebendo que o artigo, a seu modo, era uma obra prima: tanta asneira em tão pouco espaço! Hoje, só me resta reconstituir, de memória, se não a letra, pelo menos, o espírito do trabalho. Ele começava (e prosseguia), mais ou menos, assim:
“A ofensiva neoliberal promovida pelo capitalismo financeiro e o latifúndio improdutivo tem sufocado as nações subjugadas desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1944. (Ou ano próximo. Não posso garantir, por que a CIA falsificou os documentos.) Devido a essa conjugação de forças antipopulares, a globalização estende suas garras não apenas sobre a totalidade da Terra, mas do universo, sendo provas disso o programa espacial da Nasa e a explosão do foguete brasileiro. Mas, apesar da situação atual desfavorável, as contradições do modo de produção capitalista determinarão seu inevitável fim...”

PS. Inspirei-me em Paulo Roberto de Almeida e em seu parecer (24/9) a artigo que havia recebido para avaliar, uma porcaria laudatória ao governo Lula.

Nenhum comentário:

Postar um comentário