quinta-feira, 26 de outubro de 2017

SOMENTE PARA ECONOMISTAS (ACHO EU)



Um amigo, cujo nome omito, pois a mensagem foi enviada privadamente, me pede para ler seu texto ("Crony capitalism: more Mises, less Keynes", ou "Capitalismo de compadres: mais Mises, menos Keynes"), publicado em blog dos Estados Unidos.
Mandei-lhe minhas observações, que reproduzo em seguida, pois elas podem interessar a algum colega de profissão. O assunto, claro, comportaria tratamento muito mais extenso, algo que não me disponho a fazer agora. Esta foi a minha carta-resposta.
Caro amigo:
Li seu texto. Em geral, concordo com as ideias ali expostas. Entretanto, eu teria mais cuidado em atribuir a Keynes (mesmo que implicitamente) coisas que ele não disse e com que, provavelmente, não concordaria.
Nos 25 anos que se seguiram ao fim da II Guerra, praticamente todos os economistas ocidentais se diziam "keynesianos". Alguns, com fundamento; outros, sem nenhum. Usou-se o rótulo "keynesiana" até para receitas de desenvolvimento econômico, o que teria feito o economista inglês revirar-se no túmulo. Vem à mente aquele bordão rodrigueano: toda unanimidade é burra.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. No mundo em que Keynes viveu, a Grande Depressão pode até ter sido provocada ou agravada por erros de política monetária (segundo M. Friedman e A. Schwartz sustentaram), mas foi vencida (em alguns casos, como o da Alemanha nazista, antes mesmo de aparecer a Teoria Geral) pela política fiscal expansionista. Deixada ao sabor do mercado, a crise teria, provavelmente, se prolongado muito mais. Havia, então, escassez de governo.
(Deixemos de lado a Alemanha de Hitler.) Desde meados da década de 1970, em contraste, o mundo ocidental (para não falar da URSS, China, Índia e afins) passou a ter excesso de governo. É nesse contexto que a crítica liberal produzida por pessoas ou grupos de pessoas como Friedman e a Escola Austríaca se torna relevante.
Esse é o mundo em que continuamos a viver. Portanto, devemos, sim, acho eu, escutar mais economistas como Mises e Hayek. Há muitos anos, eles nos alertavam do perigo: governo demais só poderia gerar ineficiência e este capitalismo de companheiros que nos atormenta hoje.
Mas, tenha certeza, fazer o BNDES dar todo o dinheiro do mundo aos Irmãos Carniça (Joesley et al) jamais teria sido uma política aprovada por Keynes.
Abraço,

Gustavo Maia Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário