quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

FLORIANO PEIXOTO E OS MAIAS


Gustavo Maia Gomes

Quero falar dos Maias meus parentes e começo com a piada muito popular no passado, mas hoje esquecida. Havia na redação de alguns jornais o busto representando Eça de Queiroz (1845-1900). Todo foca, ou seja, repórter iniciante, perguntava: – “Quem é esse?” E ouvia em resposta: – “Não é esse, é Eça”.

Acontece que “Os Maias” é um livro do escritor português. Foi isso que me fez recordá-lo. Ele e Machado de Assis (1839-1908) eram rivais. E aí me lembro de outra piada infame. nosso romancista maior havia acabado de morrer. Nas redações, repetia-se o seguinte diálogo: – “Sabe do Machado?” – “Não” – “Foi-se”.

O alagoano Floriano Peixoto (1839-95) – cuja esposa havia nascido em Branquinha (AL) –, era proprietário de três engenhos nessa região desbravada, entre outros, pelos Maias e os Maia Gomes: Duarte, Itamaracá e Riachão da Serra (Murici Web).

Vivendo desde há muito no Rio de Janeiro, o militar precisava ter quem cuidasse de suas terras em Alagoas. No caso do Riachão da Serra, a pessoa escolhida foi seu amigo (e primo em primeiro grau da mulher de Floriano) Antônio Fernandes Lins (?-?) . Os dois homens terminaram virando sócios e coproprietários da fazenda.

Foi com o casamento de João Fernandes Lins (1903-97, filho de Antônio) e Julieta de Oliveira Maia (1903-93) que os Maias entraram nessa história. João e Julieta foram avôs de Ricardo Ferreira de Souza Maia, fonte de muitas informações sobre seus ancestrais – de certa forma, também meus – que utilizarei no livro “Uma Noite em Anhumas”.

Contou-me Ricardo, baseado em lembranças de sua tia Geralda Maia Fernandes, que “em algum momento − talvez por volta do final dos anos 1940, ou inícios dos 1950 −, um genro de Floriano Peixoto procurou [João Fernandes Lins] para negociar a venda da parte herdada do Riachão da Serra, que ainda pertencia ao [espólio do] marechal. Meu avô materno, [que havia sucedido o pai dele na administração da fazenda] veio então a comprá-la”. Riachão da Serra permaneceu com os Maias até este ano (2019).

Muito antes disso, em 1945, o Diario de Pernambuco anunciou que a propriedade estava à venda. Devia ser o tal genro de que fala Ricardo. Ele, provavelmente, também estava buscando no Recife compradores para sua herança. (Embora o endereço de contacto fosse em Maceió.)

Pelo visto, apesar de quase centenária, Tia Geralda tem melhor memória que alguns jovens conhecidos meus. Que assim continue por muito tempo. Também sou grato a Ricardo Maia por me trazer de bandeja tantos fatos interessantes sobre seus avôs, bisavôs, pais, irmãos e tios.

Foi por isso que escrevi, em “Uma Noite em Anhumas”: “Há os Maias de Eça e os Maias de Ricardo”. Tá bom que o romancista português fosse um consumado mestre, mas, eu não troco as histórias de Branquinha pelas de Lisboa.

(Publicado no Facebook, 13/12/2019)

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