quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

RELÓGIOS DE EINSTEIN


Gustavo Maia Gomes

Dos anos quarenta até 1991, quando Marcos morreu, os casais Mauro-Stella e Marcos-Carmita foram vizinhos, sucessivamente, em dois bairros recifenses. Os filhos que iam nascendo se tornaram amigos. Em um caso, primeiro, namorados; em seguida, marido e mulher.

Pode ter sido um erro (para Groucho Marx, a principal causa do divórcio é o matrimônio), mas durou três décadas, depois do quê cada qual tomou seu rumo. O cisma traumático, entretanto, gerou desgastes insuperáveis nas amizades da segunda geração.

Mesmo assim, o entrelaçamento das duas famílias perpetuou-se nos netos e bisnetos comuns e na proximidade das casas de Mauro-Stella e Marcos-Carmita originalmente iguais, coladas uma à outra, e ainda pertencentes aos filhos dos seus antigos donos.

Até ontem. Compradas ambas em 1950, uma das casas passa agora para mãos desconhecidas que, possivelmente, a derrubarão. É como se a história de Mauro-Stella, Marcos-Carmita, após setenta anos, finalmente, devesse terminar.

Os relógios de Einstein andam mais lentamente quando em movimento. Nenhum deles, porém, conseguiu até hoje dar marcha-ré, deter o tempo, ou parar a História. Seja em qualquer outro lugar do mundo, seja no Alto do Céu.

[PS. Depois de Marcos (1991), faleceram Mauro (1997), Stella (2001) e Carmita (2010). Os filhos deles que se casaram em 1972 e se separaram em 2000 ainda estão vivos. Desses, Mauro-Stella e Marcos-Carmita tiveram cinco netos e três bisnetos.]

(Publicado no Facebook, 29/8/2019)

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