quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

PLANO CRUZADO EM MANAUS


Gustavo Maia Gomes

Em 1985-86, fui Coordenador de Planejamento Global do Ipea-Iplan (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas / Instituto de Planejamento), à época vinculado à Secretaria de Planejamento da Presidência.

O cargo tinha esse nome pomposo, mas importância nenhuma. Contudo, deu-me oportunidades de participar de discussões relevantes sobre a economia brasileira de então. Sabíamos todos que o nosso problema maior, herdado do regime militar, era a inflação.

A resposta inicialmente dada pelo governo Sarney foi o Plano Cruzado, um reles congelamento de preços. Enganou muita gente. No primeiro momento, inclusive, a mim. Detesto ter errado daquela forma. Claro, eu não estava só. Muitos economistas, embalados por uma teorização defeituosa, acreditavam que se podia extinguir a inflação alucinada com um passe de mágica.

Mas isso não me conforta. Melhor é me refugiar na certeza de que não participei da elaboração daquilo. Eis a prova do que estou dizendo: três dias antes do Plano Cruzado (28/2/1986), eu estava em Manaus. E reverberando, em entrevista, as medidas inócuas com as quais o ministro da Fazenda camuflava a iminência do congelamento.

Deixaram-me ir a Manaus, naquela semana. Dificilmente se poderia imaginar um lugar mais longe de Brasília. Fiquei sabendo do Plano Cruzado pela televisão. Não foi ideia minha.

(Publicado no Facebook, 3/12/2019)

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