quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

HERMANO VENCEU


Gustavo Maia Gomes

Quando, nos primeiros anos 1960, comecei a me interessar por economia, sob a influência do inesquecível tio Hermano Cardoso Pedrosa (1920-2004), duas palavras sintetizavam boa parte das preocupações minhas e dos brasileiros: Revolução e Desenvolvimento.

Uma emanava de Karl Marx (1818-83) e seus discípulos; a outra era invenção recente de economistas como Simon Kuznets (1901-85), W. Arthur Lewis (1915-91), W. W. Rostow (1916-2003), Raul Prebisch (1901-86) e Celso Furtado (1920-2004).

Por trás das duas ideias, havia o sentimento de insatisfação com a pobreza do povo e a crença de que era possível eliminá-la. Isso se alcançaria pela redistribuição da renda e riqueza, pelo crescimento da produção e, mais frequentemente, por uma combinação das duas.

A opção revolucionária se nutria da rápida industrialização da Rússia conseguida pelo regime comunista. Daí o respeito que os planos quinquenais de Stálin passaram a ter na discussão política e econômica.

Já os defensores moderados do desenvolvimento temiam os custos da revolução, advogando a estratégia reformista. Curiosamente, esses também tinham um Plano (Marshall), o da reconstrução europeia, com que se confortar.

Eu defendia a revolução; Hermano, o desenvolvimento.

Quase 60 anos depois das conversas entre meu tio e eu, no terraço superior da Rua Albino Magalhães, 81, Farol, Maceió, declaro aqui sua vitória. Houve amplo e generalizado desenvolvimento econômico no mundo, depois da Segunda Guerra. A pobreza caiu, a expectativa de vida cresceu, o número relativo de pobres despencou. E isso dependeu muito pouco de revoluções.

Houve desenvolvimento medido não apenas pelo crescimento do produto per capita (de que os gráficos reproduzidos dão testemunho), mas também pela melhoria dos indicadores sociais relevantes, como se pode constatar no mesmo site Our World in Data de onde tirei as figuras anexas.

É verdade que em alguns países também houve revolução. Essa, entretanto, mais prejudicou do que favoreceu os pobres. Basta comparar a China de Mao Zedong (1893-1976) – que matou de fome quase cem milhões de compatriotas entre 1957-62 (“Grande Salto para Frente”) e 1966-76 (“Revolução Cultural”) – com a de Deng Xiaoping (1904-97) – cujas reformas pró mercado e capitalistas promoveram o desenvolvimento e tiraram da pobreza mais de um bilhão de chineses.

A União Soviética, por seu turno, revelou ser uma fraude. Sua indústria tinha custos tão altos que só pôde ser implantada e só poderia funcionar num ambiente de guerra (ou de ferrenha ditadura, o que dá no mesmo). Quando a guerra acabou e, muito depois, a tirania tornou-se insustentável, o regime caiu e o mundo constatou que a pobreza ali ainda era generalizada.

Hermano venceu.

(Publicado no Facebook, 19/8/2019)

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