quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O PIRÃO


Gustavo Maia Gomes

Foram-se as castanhas. Comi a última das compradas no mercado em Aracaju. Ficou a quartinha. (Moringa, se preferir.) Dormirá ao vento, para me trazer água fresca pela manhã, como faziam as quartinhas de Monte Verde, Branquinha.

Do mercado, Lourdes e eu fomos ao restaurante escolhido na internet. – Ah, que pirão! – diziam os comentários. – Ah, que pitu! – (um tipo de camarão grande, de água doce). Prevenidos por anteriores experiências ruins, seguimos essa pista.

Infelizmente, a comida estava péssima. Nenhuma surpresa, essa foi a regra na nossa excursão recém terminada a cidades de Alagoas, Sergipe e Bahia. Deve ser porque os "chefs" de agora, em vez de cultivar o sabor, aprendem desenho.

Se o prato sem gosto mostrou que Aracaju era igual às outras cidades, algo diferente, contudo, estava por acontecer. Apareceu-nos o dono do estabelecimento. Contou que chegara da Europa. E deitou falação.

– Eita lugarzinho para se comer mal! (Ele queria dizer a Europa, comparada com o seu restaurante.) – Fui em todos os países. Horrível. Na Itália, eu lhe garanto, não há massa que chegue aos pés da que preparo aqui.

Para reforçar suas palavras, fez a garçonete garantir que, sim, naturalmente, inquestionavelmente, sem sombra de dúvidas, o inhoque com ravióli e talhatele no dendê servido no seu restaurante era o melhor prato de massa do mundo.

Na saída, comentei com minha mulher e companheira de viagem: – “Ah, que pirão!”

(Publicado no Facebook, 16/9/2019)

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