quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

JORGE DE LIMA, POETA


Gustavo Maia Gomes

Foi meu pai quem primeiro me falou sobre ele. Eu era um menino. Embora nascidos em lugares próximos um do outro – Jorge em União, Mauro em Branquinha –, os dois tinham idades distantes. Provavelmente, nunca se encontraram.

Mesmo assim, ao falar em Jorge de Lima (1893-1953), Mauro se sentia próximo dele. Talvez, traindo uma inveja longínqua, pois meu pai, na juventude, também escrevera seus versos (algum estudante de Direito, nos 1930, não o fez?) e havia sonhado com uma carreira literária.

Dois ou três anos depois daquela conversa, Mauro comprou um disco fonográfico: “Essa negra Fulô”. Alguém havia musicado o poema de Jorge de Lima, que começa assim:

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.

Ao perceber meu ar de espanto ouvindo aquilo, minha mãe, Stella, explicou:

– Jorge de Lima. Poeta importante. Alagoano.

Sou um leitor inconstante de poesias. Conheço poucas. Mas, simpatizei com este soneto dele. Cito só um fragmento:

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Quase vinte e cinco anos separam os dois poemas. (“O acendedor de lampiões” foi escrito em 1906, quando Jorge tinha treze anos.) Os estilos são, também, diferentes. Mas, gosto de ambos. Dizem, porém, que sua obra prima é "Invenção de Orfeu".

O Brasil esqueceu Jorge de Lima. Eu, inclusive. Mas, quando voltei as vistas para União dos Palmares, lembrei-me das coisas ditas por Mauro e Stella. E reencontrei o poeta. Quase ao vivo.

Em 7 de setembro de 2019, com Cassio SilvaGenisete Lucena Sarmento, Carla Theresa Borba Leite, Iremar Marinho e João Paulo Farias – todos palmarinos ou residentes na cidade – Lourdes Barbosa e eu visitamos o memorial Jorge de Lima em União dos Palmares.

É a casa onde ele nasceu e morou por uns anos. Ainda bem que está de pé, razoavelmente, conservada. Viva a Negra Fulô, o Acendedor de Lampiões, Orfeu. Viva Jorge de Lima.

(Excerto do livro “Uma Noite em Anhumas”, com publicação prevista para 2020.)

(Publicado no Facebook, 13/11/2019)

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