quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

QUARTINHA PENSANTE


(Texto psicografado por Gustavo Maia Gomes)

Sou uma quartinha -- há quem me chame moringa -- e este ao meu lado é um copo. Somos feitos de barro cozido. Nossos ancestrais têm dez mil anos.

Eu, claro, sou nova. Faz só um mês que Gustavo e Lourdes me trouxeram de Aracaju, cidade onde se come melhor que na Europa. (É o que dizem por lá. Não garanto.)

A cada manhã, os dois me enchem de água, que torno mais fria e saborosa. Estou feliz. Sou útil e vivo em companhia das plantas. Cultivá-las é coisa tão velha quanto o foi fabricar meus mais remotos parentes.

Convivo bem com o computador da foto. Ele se julga muito importante. Talvez seja. Mas, nunca teria existido se as pessoas não tivessem antes amassado e cozido o barro.

Ouvi, outro dia, um carro dizer que era o mais tecnológico do mundo. Ele talvez não dure dez anos. Tecnológica sou eu, que presto serviço há mil vezes mais tempo.

Tem o retrato de Lourdes. Fica olhando para Gustavo o dia todo. Acho que ele gosta, ou não o teria botado ali. Eu, a quartinha de Aracaju, amo os dois

(Publicado no Facebook, 4/10/2019)

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