quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

TEMPOS NOVOS E NOVÍSSIMOS


Gustavo Maia Gomes

Minha breve carreira de jornalista começou em 1967. A revolução (principalmente) gráfica iniciada pelo Jornal do Brasil ainda era coisa recente. Para ter uma ideia de sua importância, basta dizer que os jornais à moda antiga eram “formatados” (o termo ainda não existia) de maneira tão inepta que o leitor dispendia mais tempo procurando as notícias do que, propriamente, as lendo.

Isso, por várias razões específicas.

(1) Tipicamente, uma matéria era composta de pequenos pedaços distribuídos aleatoriamente. Podia começar na página três, continuar na sete e terminar na dois. Onde houvesse um buraco aberto, em qualquer página, o editor punha o pedaço da notícia que tinha sobrado dos buracos já fechados. E o leitor que se virasse.

(2) Não havia preocupação com a harmonia geométrica, por assim dizer. Se o título da matéria tivesse quatro colunas, o seu corpo podia começar com quatro, ou duas, ou três. E continuar com uma coluna, ter mais abaixo quatro, no prosseguimento, três. Ou seja, a gente pensava que tinha lido uma coisa e só depois descobria que tinha lido outra.

(3) As colunas de texto eram dispostas tão proximamente umas das outras que se tornara necessário separá-las por linhas verticais. Uma das inovações mais simples e impactantes feitas pelo Jornal do Brasil foi afastar as colunas e substituir as linhas pretas por espaços em branco.

A revolução gráfica (mas, também, linguística -- sobre isso posso falar em outra ocasião) de 1959 inaugurou o que chamo aqui de novos tempos da imprensa. Mas, o que era novo — os jornais dos anos 1960-70 —, tornou-se antigo na nossa era atual radicalmente moderna. Ninguém desconhece que o computador e a internet criaram um mundo tão diferente para a “imprensa” que nem de “imprensa” ela pode mais ser chamada.

Nesse sentido, não obstante as opiniões em contrário (sei, por exemplo, que Vandeck Santiago aposta na sobrevivência do jornal impresso), estou convencido de que, em breve, ninguém mais lerá notícias escritas em papel. Eu próprio, já fiz várias tentativas de aderir exclusivamente à mídia eletrônica. Chegados somos aos “novíssimos tempos”.

Mesmo? Esses sites de jornais ou semelhantes que pretendem ser maravilhas tecnológicas são, em muitos aspectos, piores do que os jornais antigos. Têm concepção estética (layout) desagradável, os textos demoram a ser abertos, dão intermináveis pulos na tela, são, subitamente, ocultados por anúncios; não trazem a data em que foram postados (portanto, muitas vezes, lemos notícias velhas pensando que são novas).

E por aí vai. De certa forma, reinventamos o surrealismo inconfessado dos buracos abertos e fechados. Quando teremos a revolução gráfica na “mídia” eletrônica? A permanecer desse jeito, vou terminar dando razão a Vandeck Santiago.

(Publicado no Facebook, 2/9/2019)

Nenhum comentário:

Postar um comentário